sábado, 28 de maio de 2011


1º Encontro do Bauru cineclube


O primeiro encontro do Bauru Cineclube será realizado em dois dias no Teatro Municipal de Bauru, sito na Avenida Nações Unidas, com a seguinte temática:

 "O uso e a fundamental importância, do novo cinema alemão do pós 2ª guerra, no processo de desmantelação e desmitificação das ideologias nazistas na Alemanha Ocidental"

Programação 1° dia:

O encontro será aberto com uma breve explanação sobre o tema com Helschman Lacerda  e logo após exibição do filme "A FITA BRANCA" (Das Weisse Band), sendo aberto ao final do filme espaço para discussão e reflexão sobre o assunto.


Indicado ao Oscar, 'A Fita Branca' revê raízes do nazismo


A história, de autoria do próprio Haneke, ambienta-se numa pequena aldeia alemã, no princípio do século 20, pouco antes do estouro da 1.ª Guerra Mundial. A placidez do lugar na verdade, não passa de aparência. Este pequeno mundo isolado, que parece viver segundo uma série de regras morais e religiosas, está corrompido no seus sentimentos e valores mais profundos.
Os primeiros sinais são claros. O médico local (Rainer Bock) sofre uma grave queda do cavalo depois que alguém esticou um fino fio metálico entre duas árvores, no seu caminho para casa. Gravemente ferido, ele corre risco de morte, ficando seus filhos aos cuidados da parteira local (Susanne Lothar).
O incidente, que parece isolado, multiplica-se em outros - como a morte aparentemente acidental de uma lavradora a serviço do barão (Ulrich Tukur, de "Amém"), o mais poderoso proprietário rural da região, de quem praticamente todos os camponeses dependem para trabalhar. 
O filho da lavradora reage, acreditando que o barão é culpado pela morte da mãe, destruindo sua larga plantação de repolhos. Logo mais, mesmo crianças, como Sigi (Fion Mutert), filho do barão, e Karli (Eddie Grahl), o filho da parteira, que sofre de síndrome de Down, são vítimas de violências.
Um conjunto de episódios que choca a comunidade, muito rígida e estruturada na moral protestante, sob a liderança de um pastor (Burghart Klausner, de "O Leitor").
O único a destoar do padrão de comportamento local é o jovem professor primário (Christian Friedel), que veio de uma aldeia perto dali. Espécie de voz sutil da razão, ele é também o único a estranhar a liderança exercida por Klara (Maria-Victoria Dragus), filha mais velha do pastor, sobre as demais crianças do lugar.
Não é difícil perceber o quanto essas crianças são oprimidas por uma educação severa e cruel, que as submete a dolorosos castigos físicos, obrigando-as a um respeito absoluto pela hierarquia, que não lhes permite qualquer opinião ou comentário sobre coisa alguma. O machismo dominante exerce um peso ainda maior sobre meninas e mulheres. 
Nessa pequena comunidade, chama a atenção também a aparente distância de uma Justiça organizada. O poder político é exercido pelo mesmo barão que domina a região economicamente e mantém em suas terras as mesmas relações medievais de trabalho existentes há séculos. Mesmo a polícia fica de fora, a não ser quando os eventos criminosos tornam-se frequentes demais para continuarem a ser abafados.
Não é difícil enxergar aqui uma fábula sobre as raízes do nazismo, que em poucas décadas tomaria conta da Alemanha, seguindo os mesmos monstruosos princípios da justiça com as próprias mãos contra os alvos tidos como "culpados" por algum tipo de ruptura da ordem social tida como ideal - bem como a busca da eliminação dos mais fracos e dos deficientes.
De qualquer modo, "A Fita Branca" pode ser visto como uma crítica profunda a vários tipos de autoritarismo. Por isso, é o tipo de filme para o qual espectadores atentos poderão encontrar diversas interpretações.  (Por Neusa Barbosa, do Cineweb) 
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Programação 2° dia:

Abertura do encontro com explanação de Jéssica Mayra sobre como o método alemão pode ser utilizado em nosso país para combater falsos estereótipos e a discriminação, através do nosso cinema, logo após exibição do filme "UMA MULHER CONTRA HITLER" (Sophie Scholl-Die Letzten Tage), sendo aberto ao final do filme espaço para discussão e reflexão sobre o assunto

UMA MULHER CONTRA HITLER

Sinopse: Munique, 1943. Hitler está a devastar a Europa. Um grupo de jovens universitários recorre à resistência passiva para combater os nazistas, formando o movimento Rosa Branca. Sophie Scholl é a única mulher do grupo. A 18 de Fevereiro, Sophie e Hans Scholl são detidos pela Gestapo quando distribuíam panfletos contra o regime. Pouco tempo depois, são presos os restantes membros do grupo. No interrogatório, Sophie nega tudo, desesperada por proteger o irmão e os restantes companheiros. Mas quando descobre que o irmão confessou, deixa de mentir. A 22 de Fevereiro, Sophie e Hans foram acusados de alta traição e condenados à morte. A execução aconteceu ainda no mesmo dia. Os restantes membros foram executados no mesmo ano.
Os membros da Rosa Branca, principalmente Sophie Scholl, são ainda hoje respeitados e todas as terras têm ruas com os seus nomes, em memória dos estudantes que tentaram de forma heróica pôr fim à crueldade e à enorme indiferença existente na Alemanha daquele tempo. 

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Venham participem, traga sua idéia, a entrada é gratuita (são 30 vagas por dia as reservas deverão serem feitas atrvés do email cineclubbauru@gmail.com)

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Cinema alemão: do expressionismo à realidade banal

Para muitos cinéfilos e curiosos, o cinema alemão desapareceu na primeira metade dos anos 1980, com a morte de Rainer Werner Fassbinder, o esgotamento estilístico de Werner Herzog e a ida de Wim Wenders para Hollywood. Para tantos outros, essa mesma década surpreendeu com a oferta de filmes bem-humorados, comédias de costumes frívolas ou dramas espirituosos, que fizeram considerável sucesso no Brasil. Entre eles, “Homens”, de Doris Dörrie, “Bagdá Café”, de Percy Adlon, ou “A Armadilha de Vênus”, de Robert van Ackeren. 

Entretanto, foi a partir de 1998 que o cinema alemão passou a viver um de seus melhores momentos. Além de ter faturado o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2001 com o lírico "Nirgendwo in Afrika" (“Em Lugar Algum da África”), tem emplacado uma série de filmes com boas bilheterias e elogios rasgados da crítica nacional e internacional. O expoente dessa nova safra é o jovem Tom Tykwer. É dele a película alemã de maior sucesso dos últimos anos, “Corra Lola, Corra” (Lola Rennt), que abre nesta sexta-feira,4 de agosto, a mostra Fantasmagoria, Alegoria e Melancolia no Cinema Alemão, cuja cerimônia de abertura acontece a partir das 19 horas, no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro.

A mostra é uma realização da Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia da UFG e do Proec/UFG e tem o apoio da Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria de Cultura, Universidade Federal de Goiás, e Embaixada da Alemanha. De acordo com Ana Paula Nobre, essa mostra tem como principal objetivo apresentar uma pequena parte da história do cinema alemão. De acordo com Ana Paula Nobre, essa mostra tem como principal objetivo apresentar uma pequena parte da história do cinema alemão. Serão apresentados um total de 34 filmes entre os dias 4 e 20 de agosto. "Começaremos com os filmes do período Expressionista, posteriormente abordaremos o período do Novo Cinema Alemão e, é claro, o cinema contemporâneo, que continua nos apresentando, a cada dia, novos filmes e diretores premiadíssimos nos principais festivais de cinema. Diretores como Murnau, Robert Wiene, Fritz Lang, Werner Herzog, Win Wenders, Fassbinder e Tom Tykwer fizeram e fazem a história do cinema alemão, e por que não dizer, do cinema mundial, uma vez que esses diretores produziram filmes que influenciaram a cinematografia mundial. Assim, numa época em que o espectador está perdendo a inocência diante do cinema, convidamos a todos para conhecer uma parte de sua história e de suas diversas tendências e estilos."

Também estão programados debates, com início no dia 5, às 19 horas, com o jornalista Sérgio Rizzo, crítico da Folha de São Paulo, falando sobre cinema alemão. No dia 6, às 19 horas, o professor Nildo Viana, professor, sociólogo e filósofo abordará o filme "O Gabinete Caligari"; em seguida, o professor Kim-Ir-Sen Leal falará sobre Cinema Expressionista Alemão. No dia 10, Vandimar Marques, aluno de graduação em ciências sociais, falará sobre o filme 'Querelle", de Fassbinder. 

TECNO-POP

“Corra Lola, Corra” é uma experiência muita bem-sucedida de estrutura e tempo numa narrativa cinematográfica, premiada mundo afora. O filme lançou a carreira internacional de Tom Tykwer, da atriz Franka Potente, fez do cabelo vermelho uma febre na Europa e até mudou o nome do Prêmio do Cinema Alemão para Lolas. A obra se tornou um auspicioso cartão de visitas da Alemanha, tanto que a mídia, como sempre um tanto apressada, tratou de acunhá-lo como o marco do “novo cinema alemão” – denominação que no passado serviu para caracterizar o movimento desencadeado por cineastas do porte de Wenders, Fassbinder, Alexander Kluge e Herzog, que se uniram de maneira heterogênea após o Manifesto de Oberhausen, em 1962, declaração estética que edificou o cinema de autor. Depois dessa geração, o cinema alemão procurou a estilização visual e o humor. Os melhores resultados dessa “escola” chegaram a ser exibidos no Brasil, como “Homens” e o abusivamente germânico “Schtonk!”, de Helmut Dietl. A indiscriminada insistência na farsa e no riso rasgado, porém, afastou o público das salas. O cinema alemão entrava na década de 1990 em crise criativa e com um país em decisiva união política. 

Os cineastas alemães enfrentaram na última década do século 20 uma política cultural caótica, um confuso sistema de incentivos regionais que tentava compensar o tempo perdido pelo lado oriental, sem prejudicar o lado ocidental. Foi um hiato oportunamente usado pelos profissionais do setor para reavaliar o gosto do público. As comédias de situação continuaram ocupando uma boa parte do mercado durante os anos 90, adaptando-se, porém, a uma nova ordem moral e traçando críticas ácidas e divertidas a uma sociedade em mutação. 

O que diferencia o novo do velho “novo cinema” alemão? Pode-se dizer que os grandes temas pátrios e humanistas são substituídos pela pessoa comum e por suas pequenas histórias; a narrativa popular ocupa o lugar do discurso considerado por muitos “hermético”; os atores retornam ao posto de chamariz de bilheteria no lugar dos diretores, e o apuro técnico é uma arma para garantir a competitividade internacional. 

O filme “Corra, Lola Corra” prova que a Alemanha tem um novo mestre da gramática cinematográfica: Tom Tykwer. Ele tem se mostrado um cineasta obcecado com o rigor visual, com a composição quase geométrica das situações, com o registro seco e direto das imagens, sem em momento algum descuidar da construção psicológica de seus personagens. Trata-se de um filme "tecno-pop", com cenas de animação, que usam câmera acelerada e imagens graficamente alteradas servindo de elemento narrativo para uma mesma situação ser contada três vezes, com desenlaces diferentes. 

Também é de Tykwer "O Guerreiro e A Princesa", que conta a história de Sissi (Franka Potente), uma tímida e ardilosa enfermeira, que encontra o homem de seus sonhos, um ex-soldado com problemas íntimos (Benno Furmann). Eles se conhecem quando ele faz nela uma traqueotomia de emergência depois de um acidente de carro. A obra, que fez sucesso nos cinemas alemães e foi bem aceita no Festival de Veneza, não conquistou as salas de exibição fora da Europa, mas credenciou o cineasta a assumir um projeto audacioso: filmar a primeira parte de uma trilogia idealizada por um dos maiores autores do cinema europeu nos últimos anos, Krzysztof Kieslowski. 

"Paraíso" é baseado num roteiro póstumo de Krzysztof Kieslowski e foi considerada por Tykwer, com toda a modéstia, "o filme mais brilhantemente editado de todos os tempos". Segundo o que foi idealizado pelo cineasta polonês, outros dois filmes seriam produzidos com os nomes "Purgatório" e "Inferno", cada qual filmado em uma cidade do mundo, por um diretor diferente. A película dirigida por Tykwer se passa em Torino, Itália. A atriz australiana Cate Blanchett interpreta Phillippa, uma professora de inglês que comete um atentado numa vingança contra um traficante de drogas. Após ser presa, ela se apaixona por um policial, Filippo (Giovanni Ribisi). O entusiasmo do energético Tykwer pelo cinema provavelmente é fruto de seus anos como projecionista de um cinema de arte em Berlim.

Aos 41 anos, Tom Tykwer é a prova de que o cinema alemão continua vivo e fértil em criatividade e ousadia. Ao brincar com a estrutura e a linguagem do cinema, ele afirma que seu objetivo é fazer filmes que o joguem na subjetividade das outras pessoas. Tykwer assume desse modo, a responsabilidade de herdar uma história que ostenta nomes como Werner Herzog, Rainer Fassbinder e Wim Wenders, o que para ele, ao que parece, não é peso algum.

Se o Expressionismo da década de 1920 significou a recusa dos cineastas alemães à representação coletiva da realidade disseminada nas artes plásticas, revelando ao mundo uma concepção cinematográfica sombria e pessimista, o cinema alemão contemporâneo se volta para a realidade banal, abrindo um leque de opções autorais em comédias e travessuras pop. Esse cinema jovem, que revitaliza o poderoso pólo cinematográfico de Berlim, mostra a cara de um país mutante, eternamente comprometido com a busca de uma identidade própria, de uma definição na conjuntura mundial. 


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